Tanto dolor se agrupa en mi costado,
que por doler me duele hasta el aliento.
Un manotazo duro, un golpe helado,
un hachazo invisible y homicida,
un empujón brutal te ha derribado.
Elegía – Miguel Hernandéz
Na primeira manhã de tua ausência pensei que iria enlouquecer. Havia uma verdadeira tempestade de areia no centro de Porto Alegre e, para conter meu egoísmo, protegi meus olhos adquirindo um par de óculos escuros. Comprei sapatos para conseguir andar. Claro que penso que Ver e Andar são nossa sucessão e partilha. Diante do deus maior, cultuado por tua devoção doida: o Senhor-Afeto.
Éramos marinheiros guiados somente por estrelas; bons adversários de toda hierarquia e dispostos a navegar em alto-mar. Para qualquer naufrágio a solução é repartir versos e sentimentos. Sempre celebramos nossa amizade em Público. Estamos juntos em tantos anos e fotos que não cabe esconder de ninguém esta tristeza. Tanto é assim que no dia anterior nos encontramos e desencontramos. Estivemos mais uma vez juntos para falar de alguma coisa imprescindível e controversa que só dois amigos, irmãos amorosos suportam falar e dizer sim ou não ou quem sabe – dos dois – qual o melhor caminho. Nunca esquecendo que o deus pagão dinheiro era mais do que escasso para organizar as travessias do dia-a-dia de nossas frágeis embarcações.
Quando completei quarenta anos e havíamos sofrido uma brutal derrota eleitoral nos encontramos aquela noite em alto-mar. No primeiro capítulo, logo depois da dedicatória – que é claro vou transcrever para que todos te vejam – está definido o seguinte: “Existe em grego uma espécie de sentença, um ditado que expressa um consenso: entre amigos, tudo é comum. Conhecemos bem a distinção grega entre o privado e o público: o privado é o que pertence a cada um propriamente, em sua singularidade, sua diferença; o público é o que deve ser posto em comum e igualmente repartido entre membros do grupo. A amizade aparenta-se a ambos os campos; ela liga e rege a ambos”. Escrito com caneta estás tu nas primeiras páginas do presente em forma de livro: “Camarada e compadre: O livro foi escolhido pelo número de páginas, pois um cara de 40 tem que receber um livro com mais de 500 páginas. Haja peso. Um forte e grande abraço..” Logo vem tua assinatura datada antes do capítulo titulado: “Tecer a Amizade”.
Andei nestes dias com rumo pela cidade. Passei propositalmente por várias ruas e bairros onde sempre há um pedaço de tua história...tua linhagem generosa. Teu perfil de Dom Quixote está desenhado por outro amigo teu. Sei que estás sem tua armadura no teu mistério de estar comigo falando com tanta Vida e com destreza em tuas mãos que trocam um par de lentes escuras por outras claras me silenciando pelo teu encanto para emendar qualquer história com nossa gargalhada.
Dizia o poeta republicano espanhol Miguel Hernández ao se referir a morte de Ramón Sije, aquele que fora seu grande maestro e iniciador na literatura algo que agora parafraseando seria: En su pueblo y el mío, se me ha muerto como del rayo Marco Amaral, con quien tanto quería”.
Nós continuamos e vamos estar sempre juntos. Queredores, para repartir Eduardo Galeano com aqueles que nos escutam. Foi por pura alegria que em um fim-de-semana na igreja Auxiliadora de Porto Alegre estivemos juntos para batizar com água e orações meu filho Stéfano, teu afilhado. Tenho na memória nitidamente tuas confidencias de Pai e todo teu amor imprescritível e sempre falado e escancarado e tantas vezes celebrado. Nada de silêncio agora. Teu amor e tua Amada Daniela são água e orações para conter toda minha dor ou outras vezes tua dor mais fina e terrível que de mim não escondias e que é própria de um homem digno e elegante vivendo sua honradez.
Nossas amadas e nossas amigas tua singular especialidade. Todas amadas e sempre amigas. É da interpretação do amor e da amizade que nasce nossa história. É por ti – repito – por tua elegância desmedida, honradez e compromisso com a Vida que conheci meu companheiro Flávio Koutzii e o Partido dos Trabalhadores. Minha homenagem é continuar militando na esquerda brasileira e contar sempre com teu legado de sensibilidade. Que ganhem as palavras e eu possa repetir todas as histórias do “velho que lia romances de amor”.
sábado, 6 de março de 2010
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